Neuropediatra do HU da Capital explica que intervenção precoce melhora qualidade de vida de crianças com autismo

Neuropediatra do HU da Capital explica que intervenção precoce melhora qualidade de vida de crianças com autismo

Paraíba
Joaquim
2 de abril de 2021
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Os primeiros sinais do autismo podem surgir antes mesmo dos dois anos de idade. Pouco ou nenhum contato visual, não apontar e nem falar ou balbuciar, movimentos repetitivos ou estereotipados, e hipersensibilidade sensorial são alguns deles. Para alertar sobre o assunto no mês da conscientização do autismo, a neuropediatra do Hospital Universitário Lauro Wanderley (HULW-UFPB/Ebserh), Juliana Wanderley, traz informações de como identificar o transtorno e aponta a importância do diagnóstico e intervenção precoces.

Condição que leva a déficit no desenvolvimento do cérebro, o autismo atinge uma em cada 54 pessoas, segundo dados de 2020. No Brasil, a estimativa é que existam dois milhões de autistas. O Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) é uma condição de saúde que leva à defasagem na linguagem, na interação social, nos processos de comunicação e no comportamento social da criança. É caracterizado em vários subtipos, e está classificado dentro dos Transtornos do Desenvolvimento.

Segundo Juliana Wanderley, há uma diversidade de sintomas, mas a marca do TEA é o déficit na comunicação não-verbal, que varia desde a total falta de expressão facial até a inexistência de contato visual, sorriso ou apontar com a cabeça. Pouca resposta ao outro e a relação de amizade, quando ocorre, é usualmente por algum interesse específico de compartilhamento. A falta do brincar lúdico ou uma brincadeira com roteiro repetitivo é uma característica típica das crianças com o transtorno.

“Os comportamentos e/ou interesses repetitivos ou restritos podem ocorrer de várias formas: discurso repetitivo ou a repetição de perguntas (ecolalia), sacudir as mãos, bater palmas, balançar o tronco, ranger os dentes, andar na ponta dos pés, reação exagerada ou diminuída a dor ou temperatura, interesse intenso por estímulos como luzes, padrões e movimentos, além da restrição alimentar excessiva. Esses sintomas configuram o núcleo do transtorno, mas a gravidade de sua apresentação é variável”, aponta.

“O TEA tem origem nos primeiros anos de vida, mas sua trajetória inicial não é uniforme. Em algumas crianças, os sintomas são aparentes logo após o nascimento. Na maioria dos casos, no entanto, os sintomas só são consistentemente identificados entre os 12 e 24 meses de idade. O mais típico é acontecer uma parada no desenvolvimento após os seis meses de idade, como um platô, ou ocorre a desaceleração do desenvolvimento acompanhado de alguma perda das habilidades na comunicação social”, explica a médica.

Como diagnosticar e tratar 

O diagnóstico do TEA é clínico e baseia-se na história contada pela família, pela observação e exame físico da criança e por registros em vídeos domésticos dos pais ou dos responsáveis nos primeiros anos de vida da criança. A neuropediatra Juliana Wanderley afirma que devem ser seguidos critérios definidos internacionalmente, com avaliação completa e uso de escalas validadas. Deve-se incluir ainda a triagem para deficiência visual e auditiva. A especialista destaca que testes genéticos podem ser incluídos na investigação de um TEA secundário, como a análise cromossômica por microarray, teste molecular para a síndrome do X frágil nos meninos e a pesquisa da Síndrome de Rett nas meninas. Outras avaliações como exames de neuroimagem e testes metabólicos, devem ser empreendidos apenas na presença de achados clínicos sugestivos.

“Em outubro de 2017 foi sancionada a Lei n. 13.438, com a qual passa a ser obrigatória a aplicação de instrumento de avaliação formal do neurodesenvolvimento a todas as crianças nos seus primeiros 18 meses de vida. Em novembro do mesmo ano houve a elaboração, por parte do Ministério da Saúde, do Ofício n. 35-SEI/2017/CGSCAM/DAPES/SAS/MS, do dia 14 de novembro de 2017, que trouxe como consenso para fins de instrumentalização das redes locais, para alinhamento com a Lei acima, o uso da Caderneta de Saúde da Criança, como instrumento de maior alcance para a vigilância do desenvolvimento na puericultura”, citou.

Juliana Wanderley afirma que, além do pediatra, a criança pode ser atendida pelo psiquiatra infantil, psicólogo analista comportamental, fonoaudiólogo, terapeuta ocupacional, psicopedagogo, além do auxiliar terapêutico (no ambiente escolar). “É importante ressaltar que o diagnóstico do TEA deve ser realizado nos primeiros 2 anos de vida da criança, pois a intervenção precoce pode alterar o prognóstico e suavizar os sintomas”, afirma.

O tratamento do autismo é capaz de melhorar a comunicação, a concentração e diminuir os movimentos repetitivos, contribuindo assim para uma melhor qualidade de vida do próprio indivíduo autista e também da família. De acordo com a médica, o tratamento padrão-ouro para o TEA é a intervenção precoce, que deve ser iniciada tão logo haja suspeita ou imediatamente após o diagnóstico por uma equipe interdisciplinar, consiste em um conjunto de modalidades terapêuticas que visam aumentar o potencial do desenvolvimento social e de comunicação da criança, proteger o funcionamento intelectual reduzindo danos, melhorar a qualidade de vida e dirigir competências para a autonomia, além de diminuir as angústias da família.

“Dentre as modalidades terapêuticas, a Terapia ABA (Análise Aplicada do Comportamento) é a mais amplamente usada no Brasil. Os principais pilares da equipe interdisciplinar são a família, a equipe de educação e a de saúde. Atualmente não há tratamento farmacológico para os sintomas centrais do TEA. O tratamento psicofarmacológico visa o controle de sintomas associados ao quadro, quando estes interferem negativamente na qualidade de vida da criança”, explica.

No Hospital Universitário Lauro Wanderley existe um ambulatório, no setor de psiquiatria infantil, que trata os transtornos do desenvolvimento, que abarca, entre outros, o autismo. Treino funcional, psicomotricidade e natação são atividades físicas que auxiliam muito no desenvolvimento dos autistas. Também são indicados grupos de habilidades sociais para a prática das interações no dia-a-dia e melhora no comportamento.

Abril Azul 

A Organização das Nações Unidas (ONU) definiu em 2007 todo 2 de abril como sendo o Dia Mundial de Conscientização do Autismo, com o intuito de alertar as sociedades e governantes sobre transtorno no neurodesenvolvimento, ajudando a derrubar preconceitos e esclarecer sobre o assunto. Em 2020 e 2021, a comunidade envolvida com a causa segue em uma campanha nacional com o tema único: “Respeito para todo o espectro”, para celebrar a data, usando a hashtag #RESPECTRO nas redes sociais.

“Como já disse o Dr. Ricardo Halpern, por muitos anos presidente do Departamento Científico de Pediatra do Desenvolvimento e Comportamento da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), esse ato, pelo seu simbolismo, abriu possibilidades para um maior diálogo entre as famílias, profissionais da área e os próprios indivíduos com TEA. Veio como um alerta necessário para que os transtornos invasivos do desenvolvimento, antes considerados raros, fossem vistos com maior responsabilidade. Pesquisas e o interesse pelo tema têm aumentado ano a ano, produzindo mais conhecimento, desmistificando crenças e afastando o que não é científico. Ações de conscientização sobre o tema são sempre bem-vindas”, enfatiza a neuropediatra Juliana Wanderley.

Sinais do autismo 

  • Pouco ou nenhum contato visual;
  • Não atende quando chamado pelo nome;
  • Não aponta nem usa outros gestos para se comunicar, como dar tchau;
  • Não fala nem balbucia;
  • Alinhar objetos;
  • Não brincar com brinquedos de forma convencional;
  • Não responde a um carinho;
  • Não imita movimentos e expressões faciais;
  • Não consegue decifrar os sentimentos de outra pessoa e parece não se importar.
  • Ser muito preso a rotinas a ponto de entrar em crise;
  • Fazer movimentos repetitivos sem função aparente;
  • Girar objetos sem função aparente;
  • Hipersensibilidade ou hiper-reatividade sensorial.

Assessoria

Joaquim Franklin

Joaquim Franklin

Formado em jornalismo pelas Faculdades Integradas de Patos-PB (FIP) e radialista na Escola Técnica de Sousa-PB pelo Sindicato dos Radialistas da Paraíba.

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