Papa Francisco celebra funeral de seu antecessor Bento XVI no Vaticano

Papa Francisco celebra funeral de seu antecessor Bento XVI no Vaticano

Brasil
Joaquim
5 de janeiro de 2023
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O funeral do Papa emérito Bento XVI, que morreu no sábado aos 95 anos, foi celebrado nesta quinta-feira em uma cerimônia tradicional liderada pelo Papa Francisco na Praça de São Pedro, na Cidade do Vaticano.

Bento XVI deixou ordens para que o seu funeral fosse “simples”, segundo o diretor da assessoria de imprensa da Santa Sé, Matteo Bruni. Esta foi a primeira vez desde 1802, quando Pio VII comandou a missa de seu antecessor, Pio VI, que um Papa rezou a missa de quem lhe precedeu no cargo.

Com expressão compungida, Francisco trajou vestes fúnebres vermelhas e uma mitra branca, e sentou-se em um trono logo acima do caixão de madeira de seu predecessor. Falando em latim, ele iniciou a missa.

Em sua homilia, o Papa afirmou que as últimas palavras de Jesus – “Pai, em tuas mãos entrego meu espírito” – resumiram a “entrega incessante de si mesmo” a Deus que definiu a vida de Bento XVI.

Francisco não mencionou Bento pelo nome até a última frase da homília, na qual se referiu a Jesus como o Noivo da Igreja, e ao Papa emérito como seu amigo fiel.

— Bento, amigo fiel do Noivo, que sua alegria seja completa ao ouvir a sua voz, agora e sempre!

Além de lamentar Bento por sua função como ex-pastor da Igreja, o breve discurso do Papa Francisco incluiu citações que poderiam ser interpretadas como referindo-se à obra do teólogo alemão de fala mansa e vastos escritos, cujo trabalho de vida foi meditar sobre a vida de Jesus e que enfrentou muitos desafios como Papa antes de sua aposentadoria em 2013.

— Como o Mestre, um pastor carrega o peso de interceder e o esforço de ungir seu povo, especialmente em situações onde a bondade deve lutar para prevalecer e a dignidade de nossos irmãos e irmãs é ameaçada — disse Francisco. — Durante esta intercessão, o Senhor silenciosamente concede o espírito de mansidão que está pronto para compreender, aceitar, esperar e arriscar, apesar de qualquer mal-entendido que possa resultar.

Francisco acrescentou que “apegando-nos às últimas palavras do Senhor e ao testemunho de toda a sua vida, também nós, como comunidade eclesial, queremos seguir os seus passos e entregar o nosso irmão nas mãos do Pai”.

— Que essas mãos misericordiosas encontrem sua lâmpada acesa com o óleo do Evangelho que ele espalhou e testemunhou por toda a sua vida — disse Francisco.

Um longo silêncio se seguiu à homília. A cerimônia teve liturgia semelhante à missa fúnebre de um Papa reinante, com algumas modificações, como o uso de palavras diferentes para se referir a Bento XVI.

Após a homília, o decano do Colégio dos Cardeais, Giovanni Battista Re, celebrou a Liturgia da Eucaristia. Em seguida, dezenas de padres andaram pela multidão para oferecer a comunhão.

Na parte final da missa, o Papa Francisco ofereceu “nosso último adeus ao Papa emérito Bento XVI” e o recomendou a “Deus, nosso Pai misericordioso e amoroso”. O Papa Francisco, de pé, colocou a mão no caixão, fechou os olhos e ofereceu uma bênção e uma oração. Francisco então entrou com uma bengala e um auxiliar na Basílica de São Pedro.

Os ajudantes mais próximos de Bento XVI seguiram o caixão basílica adentro, e o enterro era previsto para acontecer imediatamente. O local de enterro são as chamadas Grutas do Vaticano, onde Bento XVI junta-se a quase 150 de seus predecessores.

De acordo com seus próprios desejos, Bento XVI será sepultado em um túmulo no nível do chão que já teve outros dois ocupantes recentes: João XXIII, que liderou a Igreja por quase cinco anos antes de sua morte em 1963, e João Paulo II, seu antecessor imediato.

A missa teve a presença de 125 cardeais celebrando-a, incluindo cinco no altar, dos 224 que compõem o Colégio Cardinalício. Bento XVI nomeou 64 deles. João Paulo II, nomeou 49 deles, enquanto o Papa Francisco nomeou 111 dos cardeais.

A multidão que lotou a Praça de São Pedro foi menor do que o enorme número de fiéis que afluíram ao Vaticano e a toda Roma para o funeral de João Paulo II. Mas os lamentos ouvidos eram dolorosos:

— Estou sofrendo como se tivesse perdido meu próprio pai — disse Maria Lulic, uma balconista polonesa de 37 anos que mora em Roma. — Como polonesa, eu amava João Paulo II, obviamente, mas Bento era meu guia espiritual, minha bússola moral.

O padre Joseph Adusé Poku, de Gana, exaltou a obra de Bento XVI:

— Bento foi um modelo para mim muito antes de se tornar Papa — disse — E então ele foi humilde o suficiente para se aposentar.

O Vaticano anunciou que apenas duas delegações oficiais participariam da cerimônia, tendo recebido convites formais: uma da Itália, liderada pelo presidente Sergio Mattarella e incluindo a premier Giorgia Melloni, e outra da Alemanha, terra natal de Bento XVI, liderada pelo presidente Frank-Walter Steinmeier.

Mesmo assim, um número substancial de líderes globais compareceu, incluindo os monarcas da Espanha e da Bélgica, e os presidentes da Lituânia, Polônia, Portugal, Eslovênia, Hungria, Togo e San Marino.

Os primeiros-ministros da República Tcheca, Gabão e Eslováquia também compareceram, assim como ministros de Chipre, Colômbia, Croácia, França e Reino Unido, de acordo com uma lista de convidados do Vaticano que cresceu desde sábado.

O Papa Francisco, o primeiro Papa da América do Sul, se tornou o primeiro Papa a presidir o funeral de um predecessor que renunciou.

Mas esta não foi a primeira vez que um Papa celebrou uma missa para um anterior. Em 1802, Pio VII presidiu o funeral de seu predecessor, Pio VI, cujo corpo foi devolvido ao Vaticano depois que ele morreu no exílio em 1799.

 

 

Uol

Joaquim Franklin

Joaquim Franklin

Formado em jornalismo pelas Faculdades Integradas de Patos-PB (FIP) e radialista na Escola Técnica de Sousa-PB pelo Sindicato dos Radialistas da Paraíba.

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