Professor cria projeto de astronomia em escola da Paraíba, e alunos descobrem três asteroides

Professor cria projeto de astronomia em escola da Paraíba, e alunos descobrem três asteroides

Paraíba
Joaquim
29 de agosto de 2022
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O professor de física Felipe Sérvulo, 33 anos, juntamente com mais 21 alunos descobriram três asteroides através de um projeto pedagógico instituído na Escola Cidadã Integral Técnica Melquíades Vilar, no município de Taperoá, no Cariri da Paraíba.

O projeto foi desenvolvido no segundo semestre de 2021 com estudantes do 2º ano do ensino médio da escola e tinha o objetivo de inserir os estudantes participantes em projetos de astronomia, que envolvessem instituições de renome da área, como a Nasa. “O projeto foi um sucesso”, relatou o professor.

Poeira das Estrelas

Felipe é formado na área de física e desde o ano de 2015 trabalha com projetos voltados para a área de astronomia. No ano de 2021, na escola onde leciona, em Taperoá, foi aberta uma disciplina optativa para os estudantes, o qual tinha o objetivo de não só transmitir conteúdo voltado à astronomia, mas incentivar os alunos a serem pesquisadores também. O nome da disciplina era “Poeira das Estrelas”, e o projeto carregou o mesmo nome da disciplina.

“[O projeto tinha a intenção de] inserir conceitos básicos de astronomia e astrofísica dentro do currículo escolar através da disciplina eletiva, porém não se limitando apenas à parte conteudística, mas fomos mais além. O objetivo também foi inserir esses estudantes em projetos de astronomia, projetos científicos de ponta, envolvendo instituições de renome, como a Nasa, e que eles pudessem contribuir, também, com descobertas e entrando em contato com a astronomia observacional e trabalhar com dados astronômicos”, explicou o professor.

A disciplina contemplou 21 alunos do 2º ano do ensino médio e foi realizada de forma completamente remota, haja vista que, à época, o ensino nas escolas estaduais da Paraíba ainda estavam em modelo remoto, à distância, devido à pandemia da Covid-19. Com isso, os encontros entre alunos e o professor ocorreram todos via reunião virtual, além das práticas que também aconteceram neste modelo.

Reuniões entre o professor e alunos foram feitos de forma remota em Taperoá — Foto: Felipe Sérvulo/Arquivo Pessoal

Reuniões entre o professor e alunos foram feitos de forma remota em Taperoá — Foto: Felipe Sérvulo/Arquivo Pessoal

Inicialmente, os estudantes tiveram instrução técnica dada pelo professor para entenderem como funcionavam alguns programas e softwares específicos para estudarem a área astronômica, além de aulas teóricas. Após esse período, os estudantes passaram a trabalhar com softwares como o Stellarium, que é um sistema operacional que simula o céu noturno, e tem versões tanto para mobile quanto para desktop. Manusear esse tipo de programa foi fundamental para os estudantes, pois eles acabaram tendo contato não somente com uma nova tecnologia, mas também participando de descobertas.

“Ao mesmo tempo que esses estudantes participam desses projetos, participam dessas descobertas, eles refinam os dados astronômicos para que a Nasa possa descobrir mais objetos, sejam eles asteroides, nebulosas, supernovas”, relatou Felipe.

E através das orientações e utilização dos programas e softwares, os estudantes encontraram a “cereja do bolo” espacial no meio da poeira das estrelas: asteroides.

Caçadores de asteroides

Como o projeto foi executado completamente de forma remota, os estudantes receberam instruções e orientações do professor Felipe Sérvulo à distância. O professor explica que durante a primeira reunião de explicação dos programas e softwares, ele e os alunos encontraram três asteroides que ainda não haviam sido descobertos pela comunidade científica.

“Fizemos reuniões pelo Google Meet, eu e os estudantes, e logo na primeira reunião nós descobrimos três objetos [asteroides] que foram enviados para a Nasa [objetos preliminares], e enviamos esses dados. Um desses asteroides está no status de provisório”, explicou Sérvulo.

Em janeiro de 2022 a equipe recebeu a notícia de que um dos asteroides descoberto evoluiu para o status de provisório. Segundo o professor de física Felipe Sérvulo, quando uma equipe detecta pela primeira vez um objeto espacial e ele é confirmado como asteroide [sem sequer outra equipe ter descoberto], esse objeto passa para o status de provisório. O status de provisório dá o direito ao descobridor ou a equipe que descobriu de nomear esse asteroide.

Professor de física Felipe Sérvulo juntamente com mais 21 alunos descobriram três asteroides em Taperoá — Foto: Felipe Sérvulo/Arquivo Pessoal

Professor de física Felipe Sérvulo juntamente com mais 21 alunos descobriram três asteroides em Taperoá — Foto: Felipe Sérvulo/Arquivo Pessoal

Os asteroides descobertos pela turma de Taperoá ainda não foram nominados. De acordo com Felipe, esse processo de nominação dos corpos celestes pode levar cerca de seis anos para que seja concluído, pois ainda serão feitas mais observações e refinamento de dados, cálculo da órbita do corpo, e após esse processo serão feitas as nomeações. Como um dos asteroides já está confirmado pela Nasa, ele está com a identificação provisória de 2021 TC-149, mas será nomeado com o nome da escola, Melquíades Vilar, após o refinamento de dados astronômicos.

“Foi um resultado promissor e os alunos ficaram bastante felizes. Além deles terem contato direto com a astronomia de ponta, com instituições científicas de renome, como a Nasa, nós tivemos a ‘cereja do bolo’ que foi a descoberta desse asteroide. Além dos outros dois [asteroides] que também acabou animando os estudantes, fornecendo esse interesse maior na área da astronomia e ciências afins. Os objetivos iniciais do projeto foram alcançados”, comemorou Sérvulo.

“Fiquei bastante feliz com o resultado”, expressou o professor.

Com o projeto “Poeira das Estrelas”, Felipe submeteu o trabalho e foi agraciado com o prêmio “Educação Científica” em agosto de 2022, concedido pela Federação de Sociedades de Biologia Experimental (FESBE), que premia o melhor professor de ciências do Brasil. Sérvulo ficou entre os três finalistas do prêmio e foi o único professor do Nordeste a receber essa premiação.

A pesquisa foi realizada de forma pontual na disciplina no segundo semestre de 2021, mas o professor garantiu que a ideia é que o projeto seja replicado com outras turmas da escola para que outros estudantes tenham contato com tecnologia astronômica e possam, assim como a turma de 2021, encontrar mais corpos celestes que esperam ser descobertos no espaço.

Joaquim Franklin

Joaquim Franklin

Formado em jornalismo pelas Faculdades Integradas de Patos-PB (FIP) e radialista na Escola Técnica de Sousa-PB pelo Sindicato dos Radialistas da Paraíba.

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