Israel enviou nesta segunda-feira (30), um representante a Washington para discutir um possível cessar-fogo na Faixa de Gaza, em meio à crescente pressão internacional e ao avanço da ofensiva militar contra o Hamas. A movimentação diplomática ocorre após o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, pedir publicamente o fim da guerra. “Fechem o acordo em Gaza, resgatem os reféns”, escreveu Trump em uma publicação nas redes sociais.
O enviado israelense é o ministro de Assuntos Estratégicos, Ron Dermer, que se reúne com autoridades norte-americanas para discutir não apenas o conflito com o Hamas, mas também o programa nuclear do Irã e a possível ampliação dos Acordos de Abraão — tratados de paz e cooperação entre Israel e vários países árabes, mediados pelos EUA, que buscam promover estabilidade no Médio Oriente.
Segundo um diplomata ouvido pelo The Times of Israel, “há discussões avançadas” sobre uma visita do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu à Casa Branca. Outro funcionário acrescentou que “a viagem pode ocorrer já na próxima semana”, com definição até quarta-feira (2). “Vamos esperar o Dermer voltar e ver o que ele diz”, completou um representante do gabinete do premiê. Enquanto isso, o gabinete de segurança de Netanyahu se reúne para discutir os próximos passos dos combates.
O líder da oposição em Israel, Yair Lapid, cobrou o fim da guerra. “Não há mais nenhum benefício para Israel continuar”, afirmou.
O conflito, iniciado em outubro de 2023, já deixou 56.531 mortos e 133.642 feridos em Gaza, segundo o Ministério da Saúde local. Em Israel, 1.139 pessoas morreram nos ataques de 7 de outubro, e mais de 200 seguem como reféns.
Envolvimento de outros países do Oriente Médio
O Catar também tenta reativar as negociações. Em coletiva de imprensa, o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, Majid al-Ansari, disse que “não há negociações sobre um cessar-fogo na Faixa de Gaza”, mas que “as comunicações estão em andamento para chegar a uma fórmula para retornar às negociações”. Ele destacou uma postura mais ativa por parte dos EUA.“Vemos uma linguagem positiva de Washington em relação a um acordo em Gaza, e há sérias intenções da parte deles de pressionar pela retomada das negociações, mas há complicações”.
Ansari ainda criticou a postura de Israel em relação à ajuda humanitária. “A teimosia de Israel impede a entrada de ajuda em Gaza. É inaceitável continuar a vincular os lados humanitário e militar em Gaza”.
No domingo, o chanceler egípcio, Badr Abdelatty, também confirmou que o país está trabalhando em uma nova proposta para Gaza, com um cessar-fogo de 60 dias em troca da libertação de reféns e da entrada emergencial de alimentos e medicamentos. Egito, Catar e Estados Unidos já haviam articulado, em janeiro, um acordo de cessar-fogo em três fases, mas ele fracassou após Israel retomar os ataques em 18 de março.
Novos ataques em Gaza
Enquanto as negociações avançam nos bastidores, a violência no território palestino se intensifica. Desde o amanhecer desta segunda-feira (30), mais de 80 palestinos foram mortos em bombardeios israelenses, segundo autoridades locais. Um dos ataques atingiu o Hospital dos Mártires de Al-Aqsa, em Deir el-Balah, e há relatos de dezenas de feridos. O norte da Cidade de Gaza voltou a ser alvo de ataques aéreos após alertas de evacuação forçada por parte do Exército israelense.
A imprensa local também revelou que Israel planeja intensificar sua ofensiva com o envio de mais uma divisão militar atuando dentro de Gaza. “Todas as capacidades da força aérea e terrestre estão agora disponíveis após a conclusão da operação no Irã”, disseram autoridades militares israelenses ao jornal Yedioth Ahronoth.
Centros de distribuição de alimentos
Na semana passada, moradores locais, médicos e jornalistas relataram que o exército israelense matou 19 palestinianos na área de ajuda humanitária. O hospital Al-Awda recebeu os corpos das 19 vítimas e mais de 140 feridos, todos atingidos por disparos, segundo a equipa médica.
O Exército de Israel admitiu que pessoas se feriram nos centros de distribuição de alimentos. “Os palestinos foram feridos”, declarou um porta-voz, acrescentando que os tiroteios relatados pela população estão “sob análise pelas autoridades competentes”.
Segundo a rede Al-Jazeera, desde o fim de maio, quase 600 palestinos morreram nesses pontos. Uma reportagem do Haaretz, jornal israelense, revelou que militares receberam “ordens de atirar contra multidões desarmadas perto de postos de distribuição de alimentos em Gaza, mesmo quando não havia ameaça alguma”.
Processos em cortes internacionais
Além da pressão diplomática, Israel também enfrenta processos em cortes internacionais. Em novembro de 2024, o Tribunal Penal Internacional (TPI) emitiu mandados de prisão contra Benjamin Netanyahu e seu ex-ministro da Defesa, Yoav Gallant, acusando-os de crimes de guerra e crimes contra a humanidade. O país também é réu em um processo por genocídio no Tribunal Internacional de Justiça (TIJ).