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‘Obrigado por me trazer de volta à praça’, disse Francisco a enfermeiro

‘Obrigado por me trazer de volta à praça’, disse Francisco a enfermeiro

“Obrigado por me trazer de volta à praça”, disse o papa Francisco ao seu enfermeiro por incentivá-lo a ter um último encontro com a multidão a bordo do papamóvel no domingo, horas antes de sua morte.

As palavras que o pontífice dirigiu ao seu fiel enfermeiro pessoal, Massimiliano Strappeti, no Domingo de Páscoa, foram divulgadas ontem. Após a tradicional bênção Urbi et orbi da sacada da Basílica de São Pedro, Francisco fez um passeio inesperado a bordo do veículo papal entre os milhares de fiéis reunidos para a celebração.

Mas antes do trajeto, ele perguntou ao seu enfermeiro: “Acredita que eu posso fazer?” Strappetti o tranquilizou e o papa percorreu durante quase 15 minutos a praça, abençoando vários bebês no caminho. Como Francisco disse uma vez, foi o auxiliar que salvou sua vida anteriormente, ao sugerir que ele se submetesse a uma cirurgia de cólon. O pontífice, então, o nomeou seu assistente pessoal de saúde em 2022,

O enfermeiro esteve ao lado do papa durante todos os 38 dias de internação no Hospital Gemelli e 24 horas por dia durante sua convalescença na Casa Santa Marta. “No dia anterior, eles foram à Basílica de São Pedro para rever o “percurso” a ser feito no dia seguinte, quando Francisco apareceria do balcão central da basílica”, acrescentou a Santa Sé.

Sem desistir

Em 25 de março, o médico Sergio Alfieri, chefe da equipe responsável por Francisco no Hospital Gemelli, em Roma, revelou detalhes sobre o momento mais crítico da internação, em entrevista ao jornal italiano Corriere Della Sera. Segundo ele, foi cogitado suspender o tratamento e deixar Francisco morrer, uma vez que ele vinha sofrendo.

Alfieri também explicou, na ocasião, que o papa delegou as decisões a seu assistente pessoal, em quem sempre teve total confiança. “Strappetti nos disse: tente de tudo, não desista e ninguém desistiu”, revelou Alfieri.

Segundo o Vaticano, o jesuíta argentino descansou durante a tarde em seu apartamento na residência de Santa Marta no Vaticano, antes de jantar de maneira tranquila. Na segunda-feira, por volta das 5h30 (0h30 de Brasília), surgiram os primeiros sinais de mal-estar. Mais de uma hora depois, após falar com seu enfermeiro, entrou em coma e morreu às 7h35 no horário local (2h35 de Brasília). “Não sofreu, tudo aconteceu rapidamente”, disseram aqueles que estiveram ao seu lado nos últimos momentos. Ontem, os auxiliares próximos se despediram do papa em Santa Marta.

Morte do Papa

O Papa Francisco morreu às 7h35, horário de Roma, desta segunda-feira (21), no Vaticano, em Roma. O anúncio da morte foi feito pelo Camerlengo Farrell da Casa Santa Marta.

 “Às 7h35 desta manhã, o Bispo de Roma, Francisco, retornou à casa do Pai. Toda a sua vida foi dedicada ao serviço do Senhor e da Igreja”.

O cardeal Farrell disse ainda que Francisco chegou a aparecer na sacada da Basílica de São Pedro para a mensagem de Páscoa, na manhã deste domingo (20).

“O Pontífice apareceu na sacada da Basílica de São Pedro para a mensagem de Páscoa Urbi et Orbi, deixando sua última mensagem para a Igreja e o mundo”.

“Com imensa gratidão por seu exemplo como verdadeiro discípulo do Senhor Jesus, recomendamos a alma do Papa Francisco ao infinito amor misericordioso do Deus Trino,” acrescentou o cardeal.

Primeiro Papa das Américas

Francisco assumiu o papado em 2013, mas, ao longo dos últimos anos, começou a apresentar problemas de saúde, desde gripes e resfriados até ferimentos provocados por quedas em seu próprio apartamento, no Vaticano.

Com a saúde cada vez mais fragilizada, chegou a usar cadeira de rodas e bengalas para se locomover em eventos que exigiam maior esforço físico, além de limitar suas falas em razão de diversas infecções respiratórias.

Em fevereiro, foi internado para realizar exames e tratar um quadro de bronquite, inflamação dos brônquios geralmente provocada por vírus como o da influenza ou o vírus sincicial respiratório.

Apesar do agravamento da saúde no decorrer dos anos, o papa vinha mantendo grande parte de sua agenda diária de compromissos, participando, inclusive, de reuniões em sua própria residência.

Biografia

Francisco, nome escolhido por ele para seu pontificado, nasceu Jorge Mario Bergoglio. Argentino de Buenos Aires, foi o primeiro papa das Américas. Filho de imigrantes italianos, era o mais velho de cinco irmãos: dois homens e três mulheres.

Ainda jovem, chegou a formar-se técnico em química, mas, pouco depois, escolheu o caminho do sacerdócio. Licenciou-se em filosofia, foi professor de literatura e psicologia e, posteriormente, licenciou-se também em teologia.

Foi ordenado sacerdote em dezembro de 1969, prestes a completar 33 anos. Já como padre jesuíta, foi nomeado bispo auxiliar de Buenos Aires e, posteriormente, em 2001, como cardeal, pelo então papa João Paulo II.

Como arcebispo de Buenos Aires, diocese com mais de 3 milhões de pessoas, elaborou um projeto missionário centrado na comunhão e na evangelização e com foco na assistência aos pobres e aos enfermos.

Francisco foi sucessor do papa emérito Bento XVI que, em fevereiro de 2013, aos 78 anos, renunciou ao pontificado em razão de problemas de saúde. Francisco chegou a presidir o funeral de Bento XVI, em janeiro de 2023, com uma homilia em que o comparava a Jesus.

Em meados de 2024, sobre a possibilidade de também ele renunciar, Francisco se referiu ao tema como “hipótese distante”, já que ainda mantinha saúde suficiente para seguir com seu papado. “Não tenho motivos sérios o suficiente para me fazerem pensar em desistir”.

Apelo por cessar-fogo

Ao longo de seu papado, Francisco lançou diversos apelos à comunidade internacional por cessar-fogo em conflitos na Europa e no Oriente Médio – incluindo a guerra entre Rússia e Ucrânia e, mais recentemente, os ataques do Hamas à Faixa de Gaza.

“Todas as nações têm o direito de existir em paz e em segurança e seus territórios não devem ser atacados ou invadidos. A soberania deve ser respeitada e garantida pelo diálogo e pela paz, não pelo ódio e pela guerra.”

Mulher em gabinete-chave da Igreja

Em janeiro de 2025, Francisco nomeou uma mulher para chefiar um importante gabinete do Vaticano, escolhendo a freira Simona Brambilla para dirigir o departamento responsável por todas as ordens da Igreja Católica.

Com a nomeação, pela primeira vez, uma mulher fica responsável por um dicastério ou congregação da Cúria da Santa Fé, órgão central de governo da Igreja Católica. Simona substitui o cardeal brasileiro reformado João Braz de Aviz.

Milagre na Amazônia

Em outubro de 2024, durante missa na Praça de São Pedro, Francisco proclamou a canonização do padre italiano José Allamano, fundador da congregação dos Missionários da Consolata, por um milagre que teria ocorrido na Amazônia brasileira.

Segundo a organização Consolata América, o milagre ocorreu em 1996, em Roraima, quando um indígena yanomami foi atacado por uma onça e apresentou um grave ferimento na cabeça. Um grupo de missionários teria invocado José Allamano pedindo a recuperação do rapaz, o que se realizou.

Mudanças climáticas

Em agosto de 2024, Francisco fez um de seus últimos alertas em prol da preservação do meio ambiente e exigindo uma ação global contra as mudanças climáticas. “Se medirmos a temperatura do planeta, isso nos dirá que a Terra está com febre. Ela está doente”.

“Precisamos nos comprometer com a proteção da natureza, mudando nossos hábitos pessoais e comunitários”, disse. “Os que mais sofrem com as consequências desses desastres são os pobres, aqueles que são forçados a deixar suas casas por causa de enchentes, ondas de calor ou secas”, completou.

Bênção para casais do mesmo sexo

Em dezembro de 2023, o Vaticano anunciou, em decisão histórica aprovada pelo papa Francisco, que padres podem administrar bênçãos a casais do mesmo sexo, desde que não façam parte dos rituais ou liturgias regulares da Igreja Católica.

Documento do escritório doutrinário do Vaticano destaca que tal bênção não legitima situações irregulares nem deve ser confundido com o sacramento do matrimônio, mas figura como um sinal de que Deus acolhe a todos.

O texto cita que padres “não devem evitar ou proibir a proximidade da Igreja com as pessoas em todas as situações em que elas possam buscar a ajuda de Deus por meio de uma simples bênção”.

*Com Agência Brasil

Última aparição

Antes de falecer na madrugada desta segunda-feira (21), o Papa Francisco apareceu publicamente nesse Domingo de Páscoa (20), para abençoar milhares de pessoas na Praça de São Pedro, no Vaticano. Ele estava se recuperando de uma pneumonia dupla, quase fatal. Ele foi breve em sua fala, desejando apenas “feliz Páscoa” aos fiéis. Acenou da varanda e pediu a um assessor que lesse o restante do discurso.

Antes disso, também não celebrou a Missa de Páscoa na praça, delegando a celebração ao cardeal Angelo Comastri, arcipreste aposentado da Basílica de São Pedro.

Francisco apareceu em público apenas algumas vezes desde que retornou ao Vaticano, em 23 de março, após uma internação de 38 dias. Ele não compareceu aos serviços solenes da Sexta-feira Santa e do Sábado Santo, que antecederam a Páscoa, mas sua presença era esperada no domingo, conforme o livreto da missa e os planos litúrgicos divulgados pelo Vaticano.

Imagem: Reprodução

*com BandNews

Declarações polêmicas do papa

Ao longo de 12 anos na liderança da Igreja Católica, o papa Francisco, deu diversas declarações sobre temas relacionados à comunidade LGBTQ+ ao escândalo de abusos sexuais dentro do clero.

O Band.com.br listou algumas das frases do pontífice que causou polêmica ao longo dos últimos anos. Relembre:

Pedido de desculpas a homossexuais

O líder da Igreja Católica pediu desculpas por usar termos homofóbicos durante uma reunião a portas fechadas com bispos. Ele teria dito que “há muita viadagem nos seminários”.

Em comunicado, o Vaticano declarou que o papa “nunca pretendeu ofender ou expressar-se em termos homofóbicos, e se desculpa com quem se sentiu ofendido pelo uso de um termo, referido por outros”

‘É um escândalo ir à igreja e odiar os outros’

Na primeira Audiência Geral de 2019, o papa Francisco afirmou que é um escândalo ir à igreja e “odiar os outros”.

“E quantas vezes nós vemos o escândalo daquelas pessoas que vão à igreja todos os dias e depois vivem odiando os outros e falando mal das pessoas. Isto é um escândalo. Melhor não ir à igreja. Viva assim como ateu. Mas se você vai à igreja, viva como filho, como irmão e dá um verdadeiro testemunho. Não um contratestemunho”, disse Francisco.

Aborto

Durante as celebrações do Jubileu da Misericórdia, Francisco autorizou que todos os padres teriam o poder de “absolver” as mulheres que cometeram o “pecado do aborto”, porque “o perdão de Deus não poder ser negado a todo aquele que se arrepender” e “muitas delas têm uma cicatriz no coração por essa escolha sofrida e dolorosa”.

Anos depois, em 2022, Francisco reformou que “não se deve esperar que a Igreja altere a sua posição sobre esta questão”.

“Este não é um assunto sujeito a supostas reformas ou modernizações. Não é opção progressista pretender resolver os problemas, eliminando uma vida humana. Mas é verdade também que temos feito pouco para acompanhar adequadamente as mulheres que estão em situações muito duras, nas quais o aborto lhes aparece como uma solução rápida para as suas profundas angústias, particularmente quando a vida que cresce nelas surgiu como resultado duma violência ou num contexto de extrema pobreza. Quem pode deixar de compreender estas situações de tamanho sofrimento?”, pontuou.

Em outubro de 2021, Francisco voltou a afirmar que “aborto é um homicídio” e que profissionais da área da saúde podem se recusar a fazer o procedimento

“Sobre o aborto, sou muito claro: trata-se de um homicídio, e não é lícito tornar-se cúmplice. Nosso dever é estarmos próximos das mulheres para que não se chegue a pensar na solução abortiva, que, na realidade, não é uma solução”.

Abuso sexual

Durante um sermão a sociedade civil e políticos na Bélgica, o pontífice afirmou que a “igreja deve ter vergonha e pedir perdão”.

“Tentar resolver esta situação com humildade cristã e fazer todo o possível para que não volte a acontecer. Penso nos casos dramáticos de abusos de menores, um flagelo que a Igreja está enfrentando com determinação e firmeza, escutando e acompanhando as pessoas feridas e implementando um amplo programa de prevenção em todo o mundo. Esta é a vergonha que todos temos que assumir agora, pedir perdão e resolver o problema”, declarou Francisco.

“Filhas de Deus”

Em mais um sinal de abertura da Igreja Católica a pessoas LGBTQIAPN+, o papa Francisco afirmou em entrevista à revista espanhola Vida Nueva que mulheres trans “são filhas de Deus”, estimadas pelo Todo-Poderoso do jeito que elas são.

“A primeira vez que me viram elas saíram chorando, dizendo que eu havia dado a mão a elas, um beijo. Como se eu tivesse feito algo excepcional”, disse à revista. “Mas elas são filhas de Deus! E Ele gosta de vocês assim.”

Francisco frisou que a Igreja Católica precisa estar aberta ao diálogo com todos. “É algo que nos foi ensinado por Jesus”, afirmou. Agir diferente, argumentou, seria um sinal de “fraqueza” e de falta de fé na “força do Evangelho”.

“Todos devem se sentir acolhidos. Não podemos desistir disso, porque o Senhor nos ensinou assim”, continuou. “Jesus diz: ‘Vão e tragam todos a mim, saudáveis e doentes, justos e pecadores’. Todos. Se a Igreja não tem o que Jesus ensinou, não é a Igreja.”

*com BandNews

Morte por AVC

Um boletim médico oficial divulgado nesta segunda-feira (21) pela Santa Sé informa que o papa Francisco foi vítima de um acidente vascular cerebral (AVC), seguido por coma e colapso cardiovascular irreversível.

O relatório de óbito é assinado pelo professor Andrea Arcangeli, diretor da Direção de Saúde e Higiene do Estado da Cidade do Vaticano. A morte foi constatada por meio de registro eletrocardiotanatográfico, método que identifica o momento exato da parada cardíaca (7h35 no horário local; 2h35 no horário de Brasília).

O documento também informa que o papa apresentava histórico clínico de insuficiência respiratória aguda, pneumonia multimicrobiana bilateral, bronquiectasias múltiplas, hipertensão arterial e diabetes tipo 2.

“Declaro que as causas da morte, segundo meu conhecimento e consciência, são aquelas indicadas acima”, afirmou Arcangeli no relatório.

A Santa Sé ainda não divulgou detalhes sobre as cerimônias fúnebres nem sobre os próximos passos do Vaticano com relação à sucessão papal.

 

com Agência Brasil

BAND/UOL


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Joaquim Franklin

Formado em jornalismo pelas Faculdades Integradas de Patos-PB (FIP) e radialista na Escola Técnica de Sousa-PB pelo Sindicato dos Radialistas da Paraíba.

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